Emergências são agravos à saúde que possuem capacidade de por a vida do paciente em risco ou em situações de extremo sofrimento. São situações muitas vezes imprevisíveis e que necessitam de total atenção por parte do cirurgião-dentista.
A Cirurgia é área da odontologia mais propensa à emergências, pois é a que mais causa preocupação ao paciente, e muitas dessas situações emergenciais são causadas pelo extremo estresse e ansiedade por parte do paciente. As emergências mais ocasionadas por ansiedade na odontologia são: Síncope Vasovagal; crise hiperglicêmica; Angina pectoris; infarto o miocárdio; hiperventilação; crise tireoidiana; hipertensão; convulsões; e broncoespasmo. Logicamente, a maioria dessas condições são uma associação do estresse anterior ou no momento do atendimento e a situação sistêmica e susceptibilidade do paciente. Outras emergências que podem ocorrer no consultório odontológico são: Hipotensão ortostática; broncoaspiração de corpo estranho; reações alérgicas: e superdosagem de medicamentos.
Todo consultório odontológico, bem como o próprio profissional de saúde devem estar preparados para essas situações de emergência, pois todo e qualquer paciente pode ser passível de desenvolve-las. A participação em cursos relacionados ao tema, presença de auxiliares treinados e instrumental necessário (máscaras de respiração, oxigênio, seringas e medicações como adrenalina, nitroglicerina, atropina, teofilina, etc) são decisivos numa situação emergencial, podendo ser crucial na manutenção da vida do paciente.
O suporte básico de vida (SBV), também conhecido como ABC da vida, visa avaliar e manter as vias aéreas (Airways); a respiração (Breathing); e a circulação (Circulation).
O presente texto irá abordar, de forma simplificada, alguns conceitos e protocolos estabelecidos de algumas situações emergenciais. Essa primeira parte abordará as complicações de hipersensibilidade, crise hipertensiva, desconforto torácico e dificuldades respiratórias.
Disponível em: https://www.slideshare.net/frankduarte/8-primeiros-socorros-17296954 |
Reações de Hipersensibilidade
São as famosas reações alérgicas, mediadas pelo sistema imunológico em uma reação de antígeno-anticorpo. As reações alérgicas podem estar relacionadas aos anestésicos locais (eram mais comuns nos anestésicos do tipo éster) e aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES).
As manifestações das reações de hipersensibilidade são bastante variadas, podendo ser observadas somente em pele, sendo mais leves, ou mesmo envolvendo vários sistemas, como o respiratório e circulatório, por exemplo. As reações anafiláticas são as mais graves, havendo manifestações de hipersensibilidade em todo corpo, podendo levar o paciente à morte rapidamente se não houver intervenção. As manifestações mais comuns, incluem:
*Cutâneas - Prurido; ruborização; urticária; angioedema.
*Respiratório - Sibilos; broncoespasmo; cianose; edema da laringe.
*Circulatório - Hipotensão, taquicardia, parada cardíaca.
*Gastrintestinal - Náuseas; vômito; cólicas abdominais.
Reações alérgicas leves indicam a administração de anti-histamínico (prometazina, por exemplo) intramuscular ou intravenoso, seguido por manutenção por via oral durante 24 horas (recomenda-se de 8 em 8 horas). Reações mais graves necessitam de administração de 0,3ml de epinefrina 1:1000 (subcutânea ou intramuscular). Caso o paciente apresente o broncoespasmo , todo o procedimento acima deverá ser realizado, além da administração de oxigênio e deve-se contactar o serviço médico de emergência. Em casos ainda mais grave (como o edema de laringe) manobras de suporte básico de vida são ser necessárias (cricotomia, por exemplo).
Crise Hipertensiva
A hipertensão arterial é uma das doenças mais comuns no mundo, principalmente na sua forma primária ou essencial (sem causas aparentes). De acordo com MILORO, um paciente é considerado hipertenso quando sua pressão, na normalidade, é superior a 140mmHg (sistólica) e maior que 90mmHg (diastólica). A hipertensão secundária é causada por alguma doença de base, como: Síndrome de Cushing, feocromocitoma e o hipertireodismo, por exemplo. Uma crise hipertensiva sistólica maior que 180mmHg e diastólica maior que 110mmHg é uma emergência de extrema importância, pois pode provocar danos a diversos órgãos como insuficiência cardíaca e renal; edema pulmonar; e encefalopatias.
O mal controle da dor é um dos principais motivos de uma crise hipertensiva, pois com o desconforto, o paciente tende a ficar mais tenso e estressado, aumentando a pressão arterial, por isso, uma correta anestesia e utilização de protocolo de redução de ansiedade são muito benéficos para esses pacientes.
Quando o cirurgião-dentista estiver frente a uma crise hipertensiva, todo tratamento deverá ser suspenso, e dependendo do quadro, a emergência externa deverá ser contactada. A sintomatologia da crise inclui: elevação da pressão arterial, cefaleia, tontura, mal-estar e distúrbios visuais. O paciente deve ser posto em uma posição confortável e ser tranquilizado. Uma medicação anti-hipertensiva deve ser administrada por via sublingual (25 a 30mg de captopril), após a crise, o paciente deve ser encaminhado para atendimento médico.
Desconforto Torácico
As causas de desconforto torácico podem ser bastante variadas, envolvendo o sistema gastrintestinal (refluxo esofágico); sistema musculoesquelético (dores na região esternal e costas); ou mesmo o sistema cardiovascular (angina pectoris e infarto do miocárdio). As manifestações do sistema cardiovascular são de extrema importância e podem ser consideradas verdadeiras emergências.
Os pacientes costumam relatar dor "explosiva", sensação de apertamento, pressão ou queimação. As dores advindas do sistema gastrintestinal e musculoesqueléticas são aliviadas com a mudança na postura do paciente (alterando a posição da cadeira), já as de origem cardíaca costumam continuar doendo mesmo com a mudança na postura, podendo isso, ser utilizado como diagnóstico diferencial. O cirurgião-dentista, frente a um desconforto torácico desse tipo, deverá suspender o tratamento e dar total atenção à sintomatologia.
A angina ocorre quando há obstrução em uma ou mais artérias coronárias, dificultando o carreamento de oxigênio pelo sangue arterial, principalmente nos casos em que o organismo demanda mais oxigênio, como em situações de estresse ou exercícios físicos. Dessa forma, o miocárdio se torna isquêmico, produzindo pressão e dor na região esternal, podendo se propagar para o ombro, braço esquerdo e mandíbula. O infarto do miocárdio ocorre quando houver obstrução total ou em grande parte do fluxo sanguíneo, promovendo disfunção celular e morte. A área necrótica provocada pela morte celular será gradativamente substituída por tecido fibroso, logicamente, caso o paciente sobreviva ao infarto. Esse tecido fibroso é incapaz de se contrair e transportar sinais elétricos, ficando o paciente mais susceptível a desenvolver arritmias. Os 6 meses após um infarto são considerados o período mais crítico, como maior possibilidade de ocorrer outros, com base nisso, procedimentos cirúrgicos eletivos devem ser adiados para uma data após esses meses.
Nos casos de angina, o paciente, em sua maioria, já tem ciência de sua condição e conseguem identifica-la. A nitroglicerina 0,4mg pela via sublingual (ou Isordil 5mg) costuma ser muito benéfica nesses casos, pela sua boa atividade vasodilatadora. Essa medicação poderá ser utilizada até 3 vezes em intervalos de 5 em 5 minutos, combinada com suplementação de oxigênio, para reduzir o trabalho do miocárdio. Caso o desconforto não tenha sido debelado após a terceira dosagem de nitroglicerina, o infarto do miocárdio passa a ser a principal hipótese. Dessa forma, deve-se administrar 352mg de Aspirina e dextrose 5% por via endovenosa. O sulfato de morfina poderá ser utilizado para debelar a dor e dar mais conforto ao paciente. A assistência médica de emergência deverá ser contactada de forma imediata (após a segunda dose de nitroglicerina, não tendo passado o desconforto, é recomendado já chamar a emergência médica). O SBV deve ser iniciado o quanto antes.
Dificuldades Respiratórias
As emergências relacionadas com o sistema respiratório são bastante importantes e necessitam de intervenção rápida e precisa por parte do dentista.
Crise Asmática
A asma é causada pelo estreitamento de vias aéreas por motivos infecciosos, inflamatórios ou mesmo imunológicos. É importante levar em consideração que esses pacientes costumam ser bastante alérgicos, e isso pode resultar em crises asmáticas. Atenção especial deve ser dada aos AINES. Muitos desses pacientes carregam consigo medicações broncodilatadoras como a teofilina e o metaprotenerol, assim, os pacientes se automedicam quando os sibilos característicos começam. O óxido nitroso costuma ser muito benéfico nos casos de pacientes com asma. A melhor forma de prevenção dessa emergência é uma doença bem controlada por parte do paciente e a utilização do protocolo de redução da ansiedade (comentado mais adiante).
A asma pode ser desencadeada por situações de estresse e ansiedade ou mesmo por medicamentos que o paciente seja alérgico. A presença de sibilos, taquicardia e uso dos músculos acessórios da respiração são sinais típicos das crises asmáticas. Cianose pode ser observada em casos mais graves. Nesses casos, o profissional deve suspender todo tratamento e posicionar a cadeira de forma ereta. Como já mencionado, os pacientes com asma já sabem de seu estado e possíveis complicações então costumam utilizar um broncodilatador para alívio dos sintomas. O dentista poderá utilizar suplementação de oxigênio. Caso o quadro não se resolva com essas medidas iniciais, é recomendado administrar 0,3ml de epinefrina 1:1000 subcutânea ou intramuscular e ligar para assistência médica. A teofilina 250mg por via intravenosa poderá ser utilizada.
Hiperventilação
A hiperventilação é uma condição comum em pacientes muito ansiosos e pode ser facilmente evitada com o protocolo de redução da ansiedade. Os sintomas dessa situação emergencial são: Taquipneia, dispneia, formigamento nas extremidades e na região perioral, sensação de falta de ar e taquicardia. O uso de oxigênio deve ser evitado. O profissional deve encerrar o atendimento e posicionar a cadeira de forma ereta. O paciente pode ser encorajado a respirar em um saco de papel (evitar sacos plásticos, se possível), aumentando o suprimento de CO2 até o fim da crise. Um ansiolítico (Midazolam intramuscular ou intravenoso) poderá ser utlizado para controle da ansiedade. Mais uma vez, essa situação poderá ser evitada se um correto protocolo de redução de ansiedade for estabelecido.
DPOC's
O grupo de doenças denominadas de "DPOC" ou "Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas" requerem mudanças no atendimento por parte do dentista. As DPOC's, normalmente, são causadas pela metaplasia do tecido pulmonar frente a irritantes que podem ser infecções ou mesmo a fumaça do cigarro, por exemplo.
A postura ereta é, sem dúvidas, a mais indicada para esses pacientes, pois facilita a eliminação de muco, que é produzido em grandes quantidades devido às alterações nos sistema pulmonar. Além disso, essa posição facilita o trabalho dos músculos acessórios da respiração. Esses pacientes apresentam altos níveis de CO2 na corrente sanguínea em sua "normalidade", por isso, aumentar os níveis de oxigênio pode ser prejudicial aos mesmos, sendo uma das contraindicações. Sedativos, hipnóticos e narcóticos devem ser evitados.
Consultas no turno da tarde costumam ser mais benéficas para esses pacientes, pois a manhã é o período que esses pacientes produzem mais muco, dificultando o procedimento.
Aspiração de Corpo Estranho
A aspiração de corpo estranho pode ocorrer durante o tratamento odontológico, seja algum instrumento como um grampo da dentística, ou mesmo um elemento dentário durante uma exodontia. Pacientes sedados e em decúbito dorsal (posição supina) são mais susceptíveis a essa situação emergencial. Nesses casos, deve ser avaliado se há obstrução total ou parcial da laringe. Se a obstrução for parcial, o paciente é capaz de falar e respirar, assim, o mesmo deve ser encorajado a tossir com a cavidade oral voltada para o chão. Se após isso o corpo estranho não for eliminado, deve-se utilizar suplemento de oxigênio e o paciente deverá ser encaminhado para unidade médica de emergência.
Nos casos em que há obstrução total da laringe e o paciente ainda esteja consciente, o profissional de saúde deverá realizar compressões abdominais (manobra de Heimlich) até que o corpo estranho seja expulso. O paciente sem consciência deve ser submetido à compressões abdominais (agora deitado) e o profissonal deve vascular a cavidade a fim de remover o corpo estranho. Não havendo resposta, a emergência médica deve ser solicitada e as manobras SBV devem ser realizadas, podendo ser indicado a realização de traqueostomia/cricotomia.
Aspiração de Conteúdo Gástrico
O risco de aspiração gástrica é maior nos pacientes com refluxo esofágico e que estejam sedados. O ácido gástrico, além de obstruir fisicamente a passagem do ar tem capacidade de necrosar facilmente os tecidos pulmonares que entrarem em contato com ele, pelo seu pH bastante ácido.
Os principais sinais e sintomas observados são: Taquipneia, sibilo e dificuldades respiratórias. Cianose e hipotensão podem ocorrer nos casos mais severos. A prevenção dessa situação pode ser realizada instruindo o paciente a não comer e/ou beber nada a partir de 8 horas antes da cirurgia na qual ocorrerá sedação. Caso o profissional perceba a inalação de conteúdo gástrico deverá contactar a emergência médica externa e realizar suplementação com oxigênio. O uso de sugadores de alta potência podem auxiliar bastante na eliminação do conteúdo gástrico.
Protocolo de Redução da Ansiedade
O protocolo de redução da ansiedade inclui medidas simples e eficazes para que o paciente tenha um atendimento mais tranquilo e eficiente, auxiliando também o trabalho do profissional de saúde. Esse protocolo envolve manobras anteriores, durante e posteriores ao atendimento.
*Antes - Uso de hipnóticos e sedativos e consultas marcadas para o período matinal
*Durante - Uso de óxido Nitroso, Tranquilização verbal e gestual, instrumentação longe do campo de visão, música de fundo relaxante, uso de anestésicos tópicos.
*Depois - Analgesia correta, instruções pós-operatórias.
Referências:
São as famosas reações alérgicas, mediadas pelo sistema imunológico em uma reação de antígeno-anticorpo. As reações alérgicas podem estar relacionadas aos anestésicos locais (eram mais comuns nos anestésicos do tipo éster) e aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINES).
As manifestações das reações de hipersensibilidade são bastante variadas, podendo ser observadas somente em pele, sendo mais leves, ou mesmo envolvendo vários sistemas, como o respiratório e circulatório, por exemplo. As reações anafiláticas são as mais graves, havendo manifestações de hipersensibilidade em todo corpo, podendo levar o paciente à morte rapidamente se não houver intervenção. As manifestações mais comuns, incluem:
*Cutâneas - Prurido; ruborização; urticária; angioedema.
*Respiratório - Sibilos; broncoespasmo; cianose; edema da laringe.
*Circulatório - Hipotensão, taquicardia, parada cardíaca.
*Gastrintestinal - Náuseas; vômito; cólicas abdominais.
Reações alérgicas leves indicam a administração de anti-histamínico (prometazina, por exemplo) intramuscular ou intravenoso, seguido por manutenção por via oral durante 24 horas (recomenda-se de 8 em 8 horas). Reações mais graves necessitam de administração de 0,3ml de epinefrina 1:1000 (subcutânea ou intramuscular). Caso o paciente apresente o broncoespasmo , todo o procedimento acima deverá ser realizado, além da administração de oxigênio e deve-se contactar o serviço médico de emergência. Em casos ainda mais grave (como o edema de laringe) manobras de suporte básico de vida são ser necessárias (cricotomia, por exemplo).
Angioedema - um dos sinais de uma crise alérgica
Disponível em: https://www.merckmanuals.com/en-pr/home/immune-disorders/allergic-reactions-and-other-hypersensitivity-disorders/angioedema |
Crise Hipertensiva
A hipertensão arterial é uma das doenças mais comuns no mundo, principalmente na sua forma primária ou essencial (sem causas aparentes). De acordo com MILORO, um paciente é considerado hipertenso quando sua pressão, na normalidade, é superior a 140mmHg (sistólica) e maior que 90mmHg (diastólica). A hipertensão secundária é causada por alguma doença de base, como: Síndrome de Cushing, feocromocitoma e o hipertireodismo, por exemplo. Uma crise hipertensiva sistólica maior que 180mmHg e diastólica maior que 110mmHg é uma emergência de extrema importância, pois pode provocar danos a diversos órgãos como insuficiência cardíaca e renal; edema pulmonar; e encefalopatias.
O mal controle da dor é um dos principais motivos de uma crise hipertensiva, pois com o desconforto, o paciente tende a ficar mais tenso e estressado, aumentando a pressão arterial, por isso, uma correta anestesia e utilização de protocolo de redução de ansiedade são muito benéficos para esses pacientes.
Quando o cirurgião-dentista estiver frente a uma crise hipertensiva, todo tratamento deverá ser suspenso, e dependendo do quadro, a emergência externa deverá ser contactada. A sintomatologia da crise inclui: elevação da pressão arterial, cefaleia, tontura, mal-estar e distúrbios visuais. O paciente deve ser posto em uma posição confortável e ser tranquilizado. Uma medicação anti-hipertensiva deve ser administrada por via sublingual (25 a 30mg de captopril), após a crise, o paciente deve ser encaminhado para atendimento médico.
Desconforto Torácico
As causas de desconforto torácico podem ser bastante variadas, envolvendo o sistema gastrintestinal (refluxo esofágico); sistema musculoesquelético (dores na região esternal e costas); ou mesmo o sistema cardiovascular (angina pectoris e infarto do miocárdio). As manifestações do sistema cardiovascular são de extrema importância e podem ser consideradas verdadeiras emergências.
Os pacientes costumam relatar dor "explosiva", sensação de apertamento, pressão ou queimação. As dores advindas do sistema gastrintestinal e musculoesqueléticas são aliviadas com a mudança na postura do paciente (alterando a posição da cadeira), já as de origem cardíaca costumam continuar doendo mesmo com a mudança na postura, podendo isso, ser utilizado como diagnóstico diferencial. O cirurgião-dentista, frente a um desconforto torácico desse tipo, deverá suspender o tratamento e dar total atenção à sintomatologia.
A angina ocorre quando há obstrução em uma ou mais artérias coronárias, dificultando o carreamento de oxigênio pelo sangue arterial, principalmente nos casos em que o organismo demanda mais oxigênio, como em situações de estresse ou exercícios físicos. Dessa forma, o miocárdio se torna isquêmico, produzindo pressão e dor na região esternal, podendo se propagar para o ombro, braço esquerdo e mandíbula. O infarto do miocárdio ocorre quando houver obstrução total ou em grande parte do fluxo sanguíneo, promovendo disfunção celular e morte. A área necrótica provocada pela morte celular será gradativamente substituída por tecido fibroso, logicamente, caso o paciente sobreviva ao infarto. Esse tecido fibroso é incapaz de se contrair e transportar sinais elétricos, ficando o paciente mais susceptível a desenvolver arritmias. Os 6 meses após um infarto são considerados o período mais crítico, como maior possibilidade de ocorrer outros, com base nisso, procedimentos cirúrgicos eletivos devem ser adiados para uma data após esses meses.
Nos casos de angina, o paciente, em sua maioria, já tem ciência de sua condição e conseguem identifica-la. A nitroglicerina 0,4mg pela via sublingual (ou Isordil 5mg) costuma ser muito benéfica nesses casos, pela sua boa atividade vasodilatadora. Essa medicação poderá ser utilizada até 3 vezes em intervalos de 5 em 5 minutos, combinada com suplementação de oxigênio, para reduzir o trabalho do miocárdio. Caso o desconforto não tenha sido debelado após a terceira dosagem de nitroglicerina, o infarto do miocárdio passa a ser a principal hipótese. Dessa forma, deve-se administrar 352mg de Aspirina e dextrose 5% por via endovenosa. O sulfato de morfina poderá ser utilizado para debelar a dor e dar mais conforto ao paciente. A assistência médica de emergência deverá ser contactada de forma imediata (após a segunda dose de nitroglicerina, não tendo passado o desconforto, é recomendado já chamar a emergência médica). O SBV deve ser iniciado o quanto antes.
Dor descrita como uma forte pressão ou apertamento
Dificuldades Respiratórias
As emergências relacionadas com o sistema respiratório são bastante importantes e necessitam de intervenção rápida e precisa por parte do dentista.
Crise Asmática
A asma é causada pelo estreitamento de vias aéreas por motivos infecciosos, inflamatórios ou mesmo imunológicos. É importante levar em consideração que esses pacientes costumam ser bastante alérgicos, e isso pode resultar em crises asmáticas. Atenção especial deve ser dada aos AINES. Muitos desses pacientes carregam consigo medicações broncodilatadoras como a teofilina e o metaprotenerol, assim, os pacientes se automedicam quando os sibilos característicos começam. O óxido nitroso costuma ser muito benéfico nos casos de pacientes com asma. A melhor forma de prevenção dessa emergência é uma doença bem controlada por parte do paciente e a utilização do protocolo de redução da ansiedade (comentado mais adiante).
A asma pode ser desencadeada por situações de estresse e ansiedade ou mesmo por medicamentos que o paciente seja alérgico. A presença de sibilos, taquicardia e uso dos músculos acessórios da respiração são sinais típicos das crises asmáticas. Cianose pode ser observada em casos mais graves. Nesses casos, o profissional deve suspender todo tratamento e posicionar a cadeira de forma ereta. Como já mencionado, os pacientes com asma já sabem de seu estado e possíveis complicações então costumam utilizar um broncodilatador para alívio dos sintomas. O dentista poderá utilizar suplementação de oxigênio. Caso o quadro não se resolva com essas medidas iniciais, é recomendado administrar 0,3ml de epinefrina 1:1000 subcutânea ou intramuscular e ligar para assistência médica. A teofilina 250mg por via intravenosa poderá ser utilizada.
Disponível em: http://kadinlaraozel.net/nefes-darligi-problemi/ |
Hiperventilação
A hiperventilação é uma condição comum em pacientes muito ansiosos e pode ser facilmente evitada com o protocolo de redução da ansiedade. Os sintomas dessa situação emergencial são: Taquipneia, dispneia, formigamento nas extremidades e na região perioral, sensação de falta de ar e taquicardia. O uso de oxigênio deve ser evitado. O profissional deve encerrar o atendimento e posicionar a cadeira de forma ereta. O paciente pode ser encorajado a respirar em um saco de papel (evitar sacos plásticos, se possível), aumentando o suprimento de CO2 até o fim da crise. Um ansiolítico (Midazolam intramuscular ou intravenoso) poderá ser utlizado para controle da ansiedade. Mais uma vez, essa situação poderá ser evitada se um correto protocolo de redução de ansiedade for estabelecido.
Respirar em um saco de papel pode auxiliar nos casos de hiperventilação
Disponível em: https://farmaciasaude.pt/hiperventilacao/ |
DPOC's
O grupo de doenças denominadas de "DPOC" ou "Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas" requerem mudanças no atendimento por parte do dentista. As DPOC's, normalmente, são causadas pela metaplasia do tecido pulmonar frente a irritantes que podem ser infecções ou mesmo a fumaça do cigarro, por exemplo.
A postura ereta é, sem dúvidas, a mais indicada para esses pacientes, pois facilita a eliminação de muco, que é produzido em grandes quantidades devido às alterações nos sistema pulmonar. Além disso, essa posição facilita o trabalho dos músculos acessórios da respiração. Esses pacientes apresentam altos níveis de CO2 na corrente sanguínea em sua "normalidade", por isso, aumentar os níveis de oxigênio pode ser prejudicial aos mesmos, sendo uma das contraindicações. Sedativos, hipnóticos e narcóticos devem ser evitados.
Consultas no turno da tarde costumam ser mais benéficas para esses pacientes, pois a manhã é o período que esses pacientes produzem mais muco, dificultando o procedimento.
Aspiração de Corpo Estranho
A aspiração de corpo estranho pode ocorrer durante o tratamento odontológico, seja algum instrumento como um grampo da dentística, ou mesmo um elemento dentário durante uma exodontia. Pacientes sedados e em decúbito dorsal (posição supina) são mais susceptíveis a essa situação emergencial. Nesses casos, deve ser avaliado se há obstrução total ou parcial da laringe. Se a obstrução for parcial, o paciente é capaz de falar e respirar, assim, o mesmo deve ser encorajado a tossir com a cavidade oral voltada para o chão. Se após isso o corpo estranho não for eliminado, deve-se utilizar suplemento de oxigênio e o paciente deverá ser encaminhado para unidade médica de emergência.
Nos casos em que há obstrução total da laringe e o paciente ainda esteja consciente, o profissional de saúde deverá realizar compressões abdominais (manobra de Heimlich) até que o corpo estranho seja expulso. O paciente sem consciência deve ser submetido à compressões abdominais (agora deitado) e o profissonal deve vascular a cavidade a fim de remover o corpo estranho. Não havendo resposta, a emergência médica deve ser solicitada e as manobras SBV devem ser realizadas, podendo ser indicado a realização de traqueostomia/cricotomia.
Aspiração de Conteúdo Gástrico
O risco de aspiração gástrica é maior nos pacientes com refluxo esofágico e que estejam sedados. O ácido gástrico, além de obstruir fisicamente a passagem do ar tem capacidade de necrosar facilmente os tecidos pulmonares que entrarem em contato com ele, pelo seu pH bastante ácido.
Os principais sinais e sintomas observados são: Taquipneia, sibilo e dificuldades respiratórias. Cianose e hipotensão podem ocorrer nos casos mais severos. A prevenção dessa situação pode ser realizada instruindo o paciente a não comer e/ou beber nada a partir de 8 horas antes da cirurgia na qual ocorrerá sedação. Caso o profissional perceba a inalação de conteúdo gástrico deverá contactar a emergência médica externa e realizar suplementação com oxigênio. O uso de sugadores de alta potência podem auxiliar bastante na eliminação do conteúdo gástrico.
Protocolo de Redução da Ansiedade
O protocolo de redução da ansiedade inclui medidas simples e eficazes para que o paciente tenha um atendimento mais tranquilo e eficiente, auxiliando também o trabalho do profissional de saúde. Esse protocolo envolve manobras anteriores, durante e posteriores ao atendimento.
*Antes - Uso de hipnóticos e sedativos e consultas marcadas para o período matinal
*Durante - Uso de óxido Nitroso, Tranquilização verbal e gestual, instrumentação longe do campo de visão, música de fundo relaxante, uso de anestésicos tópicos.
*Depois - Analgesia correta, instruções pós-operatórias.
Referências:
DE ANDRADE, Eduardo Dias. Terapêutica medicamentosa em odontologia. Artes Médicas Editora, 2014.
HUPP, James; ELLIS, Edward; TUCKER, Myron R. Cirurgia oral e maxilofacial contemporânea. Elsevier Brasil, 2015.
LÚCIO, Priscilla Suassuna Carneiro; DE CASTRO BARRETO, Rosimar. Emergências médicas no consultório odontológico e a (in) segurança dos profissionais. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, v. 16, n. 2, p. 267-272, 2012.
MALAMED, Stanley F. Emergências Médicas em Odontologia. Elsevier Brasil, 2018.
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