terça-feira, 28 de julho de 2015

Actinomicose

Doenças Infecciosas - Actinomicose Cervicofacial

     A actinomicose é uma doença infecciosa incomum que apresenta predileção pela região de cabeça e pescoço, onde é denominada de actinomicose cervicofacial. Outras regiões como a torácica, abdominal e pélvica também são acometidas.
     O Actinomyces Israelii é uma bactéria anaeróbica/microaerófila, gram positiva e de baixa virulência, é o principal microrganismo envolvido com a doença. Essa bactéria normalmente faz parte da microbiota comum, estando presente nas criptas das tonsilas, saliva, periodonto e biofilme dentário, atuando como um microrganismo saprófita. Outras bactérias como a A. Odontolyticus, A. Pyogenes, A. Bovis e a A. Naeslundii são relatadas na literatura.
    A patologia recebe esse nome porque de início acreditava-se que o processo seria causado por uma infecção fúngica, pois, essas bactérias, quando em colônia, costumam formar estruturas filamentosas que lembram as hifas fúngicas.
    Em condições normais esses microrganismos não são capazes de induzir a actinomicose, pois como já dito, apresentam baixa virulência. Os pacientes que apresentam má higiene oral, doenças sistêmicas debilitantes, desnutrição, neoplasias, outras infecções e traumas em regiões susceptíveis, costumam apresentar maior predisposição. Os indivíduos do gênero masculino são mais acometidos pela actinomicose, provavelmente, por apresentarem um maior envolvimento de lesões traumáticas (acidentes em esportes, veículos, etc.).

Características Clínicas e Radiográficas

     A actinomicose cervicofacial é uma doença predominantemente crônica que, clinicamente, se caracteriza pela presença de uma lesão nodular e exsudativa, que localiza-se principalmente nas regiões submandibular, submentual e geniana. Febre e linfadenopatia nem sempre são observadas, pois, a infecção é bastante localizada e superficial. Lesões de curso agudo também podem ocorrer, havendo uma resolução mais rápida.
    Essas lesões costumam expelir um material sólido e amarelado conhecido como "grânulo sulfúrico", esse material é bastante característico dessa infecção (mas não é específico) e é de grande auxilio no diagnóstico dessa condição.
    Embora seja incomum, qualquer local da cavidade oral pode ser afetado, principalmente a língua. As criptas amigdalianas podem ser acometidas, onde costumam produzir um aumento volumétrico variável das amígdalas. As glândulas salivares (maiores e menores) e o tecido ósseo (osteomielite) também podem ser acometidos pela actinomicose. Radiograficamente, essa lesão caracteriza-se pela presença de uma imagem radiolúcida de margens irregulares, devendo ser diferenciada de outros processos como doenças neoplásicas, ósseas e outras infecções.
    A botriomicose, escrófula, osteomielite e abscessos causados por outras bactérias devem sempre ser considerados como diagnósticos diferenciais da actinomicose.


Actinomicose em região de ângulo da mandíbula
Disponível em: http://www.dermis.net/dermisroot/en/10911/image.htm


 Aumento de volume e fístulas em região de ângulo da mandíbula
Disponível em: http://simple-health-secrets.com/cervicofacial-actinomycosis-images-cervicofacial-actinomycosis-pictures/


Actinomicose Oral - Ulcera extensa e profunda em palato duro
Disponível em: http://www.joms.org/article/S0278-2391(13)01032-X/abstract?cc=y=

Actinomicose Intraóssea - Extensa destruição óssea em madíbula com presença de dente flutuante
Disponível em: http://www.ajnr.org/content/35/2/390.short


Imagem tomográfica do mesmo paciente acima evidenciando a perda de estrutura
óssea (corte axial)
Disponível em: http://www.ajnr.org/content/35/2/390.short


Características Histopatológicas

     Na microscopia é possível observar uma área de abscesso, contendo múltiplos neutrófilos e a presença de colônias bacterianas na região central. Essas colônias bacterianas apresentam numerosos filamentos em forma de clava, dando um aspecto denominado de "roseta radiada". As bordas das colônias apresentam uma coloração eosinofílica, já a porção central normalmente é basofílica.


Actinomicose - Colônia de bactérias filamentosas envolvidas por um infiltrado
inflamatório predominantemente neutrofílico. (observar região central basofílica
e extremidade eosinofílica)
Disponível em: http://pathology5.pathology.jhmi.edu/micro/v21n01.htm


Actinomicose - Observar os múltiplos e evidentes filamentos 
Disponível em: http://www.joms.org/article/S0278-2391(13)01032-X/abstract?cc=y=


Colônia de bactérias filamentosas e incontáveis células
inflamatórias.
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Actinomyces_-_very_high_mag.jpg


Diagnóstico e Tratamento

     Os microrganismos que causam a actinomicose podem ser identificados a partir de técnicas de cultura ou métodos mais avançados. Os testes de cultura são positivos em apenas 50% dos casos, isso ocorre porque a presença de outros microrganismos podem inibir o crescimento das espécies de actinomyces, que são bactérias extremamente sensíveis as alterações no meio. O diagnóstico pode ser obtido por meio das características clínicas e pelas características histológicas, que são praticamente exclusivas (mas não patognomônicas) da actinomicose.
     A medicação de escolha para a doença é a penicilina (de 5 a 6 semanas), altas doses desse antibiótico devem ser administradas devido a intensa fibrose que circunda a lesão e impede que o medicamento se distribua para a área. É necessário que a terapia medicamentosa esteja associada a procedimentos de drenagem de abscesso e excisão da fístula. Caso o paciente apresente alergia, a tetraciclina é o antibiótico de escolha.

Referências


DE ANDRADE, Ana Luiza Dias Leite et al. Acute primary actinomycosis involving the hard palate of a diabetic patient. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 72, n. 3, p. 537-541, 2014.

NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M.; BOUQUOT, J.E. Patologia Oral e Maxilofacial. Trad.3a Ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, 972p.

PURI, H. et al. Actinomycosis of submandibular gland: An unusual presentation of a rare entity. Journal of Oral and Maxillofacial Pathology, v. 19, n. 1, p. 106, 2015.

REGEZI, J.A; SCIUBA, J.J; JORDAN R.C.K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 6ª edição. Elsevier, 2013.

SASAKI, Y. et al. Actinomycosis in the mandible: CT and MR findings. American Journal of Neuroradiology, v. 35, n. 2, p. 390-394, 2014.

SPERANDIO, F.F; GIUDICE, F.S. Atlas de Histopatologia Oral Básica. 1ª edição. Santos, 2013.

WOO, S. B. Atlas de patologia oral. 1. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2013


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