segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Anomalias Dentárias

Patologia Dentária - Anomalias


    As anomalias dentárias podem ser classificadas em: Alterações no tamanho, na forma, no número, defeitos do esmalte, da dentina, da polpa, alterações na cor, dentre outras. Alterações nos componentes dentários (esmalte, dentina e polpa) serão abordados em postagens futuras.

Alguns exemplos de alterações dentárias


Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/12736811425077375/



Alterações no Tamanho


    A microdontia é a diminuição no tamanho de um ou mais dentes em relação à sua normalidade. A microdontia pode ser absoluta (Quando realmente os dentes apresentam tamanho reduzido) ou relativa (quando o arco dentário, maxila ou mandíbula, são grandes e os elementos dentários "aparentam ser pequenos"). Além disso, a microdontia pode ser classificada em generalizada ou focal. A microdontia generalizada é bastante observada em pacientes com nanismo. O envolvimento focal, do incisivo lateral superior, normalmente provoca uma alteração na estrutura dentária (dente conoide). Os dentes mais envolvidos, em ordem de prevalência, são: Incisivos laterais superiores, terceiros molares e os dentes supranumerários.
    A macrodontia, obviamente, é o inverso da alteração acima. O elemento dental apresenta-se maior (aumento absoluto ou relativo) que sua normalidade. Assim como a microdontia, também pode ser focal ou generalizada. A macrodontia é frequentemente encontrada nos pacientes com gigantismo e hiperplasia hemifacial. Pela falta de espaço, o apinhamento e impactações dentárias são comuns nos pacientes com essa condição.
  Acredita-se que essas anormalidades estejam relacionadas com fatores de hereditariedade, principalmente, mas outros fatores como interações externas (fatores ambientais) e genéticas também podem afetar o desenvolvimento normal do dente.
    O tratamento dessas alterações não é necessário, apenas por questões estéticas, caso o paciente refira desconforto com a aparência.

Microdontia em incisivo lateral superior - Perceba o formato conoide
do elemento
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/289426713536180826/?lp=true

Macrodontia evidente nos incisivos centrais superiores
Disponível em: https://www.dentalpress.com.br/portal/multidisciplinaridade-na-macrodontia/


Alterações na Forma

    As alterações na forma dentária são bastante variadas e apresentam diferentes etiologias. São exemplos: Geminação, fusão, concrescência, dilaceração, dente invaginado (dens in dente), dente evaginado, taurodontia, raízes supranumerárias, pérolas de esmalte, hipercementose. atrição, abrasão, erosão e abfração (essas quatro ultimas serão abordadas em postagens futuras).

     A geminação pode ser considerada como a tentativa de divisão de um germe dentário em dois. Clinicamente, é vista como um "dente maior" com um chanfro ou fenda em sua região média (não se considera como macrodontia). Já a fusão, de forma oposta, é a tentativa de união de dois germes dentários. Muitas vezes é difícil de diferenciar essas duas condições na arcada dentária, alguns autores sugerem que a contagem dos dentes ou o número de raízes podem auxiliar nessa diferenciação. Os incisivos e caninos são os elementos mais acometidos, embora qualquer dente possa ser afetado, tanto na dentição decídua quanto na permanente. A concrescência é a união de dois dentes pelo cemento, pode ocorrer pelo desenvolvimento próximo de dois dentes ou por alterações inflamatórias. Normalmente ocorre em região de maxila posterior, envolvendo os segundos e terceiros molares. A geminação e a fusão nem sempre necessitam de intervenção. É necessário o acompanhamento na fase de dentição decídua e mista para evitar o desenvolvimento de apinhamento e lesões cariosas (a fenda que esses dentes apresentam nas faces vestibulares ou linguais, podem ser importantes focos de acúmulo de biofilme), quando esses problemas forem detectados, intervenções ortodônticas e/ou restauradoras podem ser necessárias. A concrescência tem importância na abordagem cirúrgica de terceiros molares, essa condição deve ser levada em consideração para que se evite problemas transoperatórios.

Esquema de Fusão e Geminação, uma dos formas de diferenciação
Disponível em:https://dentagama.com/news/tooth-gemination-in-dentistry


Fusão dos incisivos lateral e central
Disponível em:https://www.omicsonline.org/open-access/fusion-in-deciduous-mandibular-anterior-teeth-a-rare-case-2161-1122.S2-001.php?aid=24766&view=mobile

Forma típica de Geminação em incisivos - Notar o chanfro (ou fenda) evidente
Disponível em: https://openi.nlm.nih.gov/detailedresult.php?img=PMC3892257_jced-5-e295-g001&req=4

Exemplo de Geminação - Nesse caso a diferenciação se torna difícil, o método que pode ser usado é a contagem dos dentes: Podemos considera-lo como um único incisivo central, que apesar do tamanho não pode ser classificado como Macrodente.
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/386746686732982738/?lp=true


    A dilaceração é caracterizada por uma curvatura acentuada na raiz do dente. Sua etiologia está muito relacionada à traumas durante o desenvolvimento do germe dentário, e em menor parte, à hereditariedade. Há divergência quanto a prevalência dos dentes acometidos, para alguns autores, os dentes anteriores são mais acometidos, para outros, os posteriores são mais afetados pela anormalidade. Um dente dilacerado, claro, dependendo de sua curvatura, pode apresentar problemas frente ao tratamento endodôntico e às cirurgias. Sua angulação pode dificultar o manejo das limas e a trajetória de exodontia, sendo preferível a cirurgia pela técnica aberta. Dilacerações na dentição decídua podem causar atraso na erupção dos permanentes.
    Os dentes invaginados (dens in dente) e evaginados também são classificados como alterações da forma dentária. Os primeiros são mais comuns nos incisivos laterais superiores e são caracterizados por uma invaginação do cíngulo ou da fosseta lingual, essa fissura pode ser superficial, classificada como tipo I (invaginação limitada à coroa); tipo II (invaginação se estende até além da junção amelo-cementária); e tipo III (invaginação se estende, paralelamente ao canal radicular, até próximo ou nos tecidos perirradiculares). Ou seja, no último caso (tipo III) pode haver comunicação direta da cavidade oral com os tecidos periodontais, por isso, é de extrema importância o tratamento e acompanhamento endodôntico nesses casos. Nos tipos I e II, apesar de não haver comunicação, é necessário intervenção restauradora, pois a invaginação é uma região de fácil acúmulo de biofilme, podendo levar a lesões cariosas mais facilmente. O dente evaginado é uma protuberância dentária (semelhante a uma cúspide) localizada no centro da superfície oclusal, sendo mais comum nos pré-molares inferiores (muitas vezes bilateral). Nesses dentes, é comum a extensão da polpa até próximo à superfície oclusal. Essas protuberâncias muitas vezes causam interferências oclusais, e como a polpa nessa região está bem próxima da superfície, é comum que ocorra necrose pulpar. Para o tratamento dessa anomalia, é necessária a remoção desse aumento dentário seguido por tratamento endodôntico, pois as tentativas de restauração e proteção da polpa (devido à proximidade) não obtêm sucesso, na maioria os casos (mas não custa tentar!).

Dilacerações Radiculares
Disponível em: https://pocketdentistry.com/31-dental-anomalies/

Exemplo de Dilaceração
Disponível em: https://deskgram.net/explore/tags/dentistaempoderado

Tipos de invaginações dentárias - da menos invasiva para a mais
Disponível em: http://vinayam.in/dens-invaginatus/

Observar o aspecto de "um dente dentro do outro", por isso é chamado de Dens in Dent
Disponível em: http://directionsindentistry.net/dental-gallery-for-dentists/dens-in-dente-lateral-incisor-tooth/

Imagem radiográfica de Dens in Dent
Disponível em: http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-85162016000900007

Protuberância dentária característica de Dente Evaginado em 
segundo pré-molar inferior
Disponível em: https://endolounge.com/2015/12/08/the-little-devil-horn-part-ii/dens-evaginatus-pulp-capping-2/

Outro exemplo de dente evaginado
Disponível em: https://endolounge.com/2015/12/08/the-little-devil-horn-part-ii/dens-evaginatus-pulp-capping-2/

A protuberância dentária também pode ser facilmente observada na radiografia. Observe também como a polpa se direciona para próximo da superfície
Disponível em: https://endolounge.com/2015/12/08/the-little-devil-horn-part-ii/dens-evaginatus-pulp-capping-2/



    A Taurodontia ou Taurodontismo é representada pelo aumento da coroa de um dente multirradicular em sua extensão ocluso-apical. Esse aumento é acompanhado por uma câmara pulpar mais ampla e pela localização mais apical da furca, ou seja, a bifurcação estará mais próxima do ápice. Essa condição é mais visualizada em pacientes com Síndrome de Down, Amelogêneses, Displasia ectodérmica e Klinefelter. De acordo com o posicionamento do assoalho pulpar, a Taurodontia pode ser classificada em leve, moderada e severa (hipotaurodontia, mesotaurodontia e hipertaurodontia, respectivamente). Não é necessário tratamento para esta condição.
    O Esmalte ectópico, como o próprio nome já define, é a presença de esmalte em locais não convencionais, essa condição pode ser conhecida como Pérola de esmalte quando possui a conformação de um glóbulo de esmalte localizado nas raízes dentárias. As extensões cervicais de esmalte também são uma forma de esmalte ectópico e também ocorrem nas raízes, só que como uma extensão do tecido coronário. Essas alterações são importantes para o tratamento periodontal, pois são áreas em que o ligamento  não está bem "aderido", favorecendo o acúmulo de biofilme na região, caso haja bolsas periodontais.
    A Hipercementose pode ser definida como o aumento da espessura do cemento nas raízes dentárias. Essa anomalia é mais comum em primeiros molares e segundos pré-molares inferiores, podendo ser uni ou bilateral. Diversos fatores estão relacionados com esse aumento do tecido cementário, dentre eles, podemos citar o trauma oclusal e a doença periodontal como os principais fatores locais e algumas patologias como a Doença de Paget, Artrite e Febre Reumática como fatores sistêmicos. Não há necessidade de tratamento desta condição, apenas é necessário um bom planejamento cirúrgico nos casos de exodontias.

Classificação da Taurodontia


Neville et al, 2008

Taurodontia em segundo molar inferior
Disponível em: https://www.imgrumweb.com/hashtag/taurodontism


Esquema de extensão cervical do esmalte, uma forma de esmalte ectópico
Neville et al, 2008

Pérolas de esmalte
Disponível em: https://pocketdentistry.com/13-radiographic-assessment-and-interpretation/

Vista clínica de uma pérola de esmalte
Disponível em: http://intranet.tdmu.edu.ua/data/kafedra/internal/stomat_ter/classes_stud/en/stomat/ptn/

Hipercementose em pré-molares
Disponível em: https://medicine.academic.ru/27024/hypercementosis


Alterações no Número

    As alterações no número de dentes são mais comuns do que imaginamos. Essas anomalias estão muito relacionadas com síndromes e outras patologias que serão mencionadas a seguir. Nesse grupo de alterações dentárias, diversas nomenclaturas podem ser encontradas na literatura. A anodontia refere-se à falta de todos os elementos dentários, sendo mais comumente encontrada em pacientes com Displasia ectodérmica. A hipodontia está relacionada com a falta de um ou mais dentes, sendo esta, a condição mais normalmente encontrada na população (como as ausências dos incisivos laterais e terceiros molares em algumas pessoas). Algumas síndromes estão relacionadas como a Hipodontia, dentre elas, podemos citar: Síndrome de Down, Displasia ectodérmica, Sturge-Weber, Crouzon e Turner. A hiperdontia não é tão comum quanto a hipodontia, mas ainda é bastante visualizada na prática odontológica, são os famosos supranumerários. Os casos isolados de Hiperdontia ocorrem mais na maxila, principalmente na região anterior, seguida pelos molares e pré-molares. Os casos envolvidos com síndromes, estão localizados mais frequentemente na mandíbula. Algumas síndromes relacionadas com Hiperdontia são: Displasia Cleidocraniana, Síndrome de Apert, Gardner, Crouzon e Down.
    Os dentes supranumerários podem ser classificados de acordo com sua forma e posicionamento na arcada dentária. Levando em consideração a forma do elemento, podem ser chamados de suplementar - quando apresentam as características normais e rudimentar - apresentam formas anormais. Em relação ao posicionamento, podem ser mesiodentes - quando localizados na região anterior; distomolar - quando localizado após os molares; e paramolar - quando posicionado na ligual ou vestibular de um dente molar.
   Dentes ausentes ou em excesso devem sempre ser avaliados pelo dentista, principalmente na dentição decídua, pois podem alterar a erupção normal dos dentes permanentes. Pacientes com ausências dentárias parciais ou totais podem ser reabilitados por meio de procedimentos protéticos ou implantes. Dentes supranumerários, caso estejam interferindo na função ou posicionamento dentário, poderão ser removidos cirurgicamente.

Hipodontia e microdontia (formato conoide) em paciente com Displasia ectodérmica
Disponível em: http://www.inpn.com.br/Materia/CasoClinico/586

 Dentes conoides bem evidentes, além de hipodontia
Disponível em: http://smalldentalimplants.blogspot.com.br/p/ectodermal-dysplasia-transforming-life.html

Hiperdontia em paciente com Displasia Cleidocraniana
Disponível em: https://www.jscimedcentral.com/CaseReports/casereports-2-1063.php



Referências

HUPP, James R.; TUCKER, Myron R.; ELLIS, Edward. Contemporary Oral and Maxillofacial Surgery-E-Book. Elsevier Health Sciences, 2013.


NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M.; BOUQUOT, J.E. Patologia Oral e Maxilofacial. Trad.3a Ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, 972p.


REGEZI, J.A; SCIUBA, J.J; JORDAN R.C.K. Patologia Oral: Correlações Clinicopatológicas. 6ª edição. Elsevier, 2013.


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